Filme de Five Nights at Freddy’s é fiel a história do game, mas esquece a parte do terror
Por Pedro Belaine
Desde 2014, o jogo Five Nights at Freddy’s deu início a um formato de construção de comunidade muito interessante. Seja atingindo uma faixa etária mais juvenil ou até mesmo adultos entusiasmados com a febre que o jogo foi se tornando, os vídeos no YouTube, grupos no Reddit e lives foram responsáveis por fomentar todos os fãs, mas principalmente a sábia construção de universo através dos títulos lançados. Seja nos video games, livros ou sites cheios de easter eggs, a franquia de FNAF sempre prezou pelo seu gênero de terror, em qualquer mídia que seja, os sustos estavam presentes e aqueles assustadores personagens animatrônicos foram ao longo do tempo ganhando sua história, graças aos seus inúmeros colaboradores e à imensa comunidade.
E finalmente, 9 anos após a sua estreia nos jogos, a turma de Five Nights at Freddy’s chega aos cinemas com seu filme próprio. Produzido pela Blumhouse, responsável pelo já clássico “Corra!” (2017) de Jordan Peele, o divertido “M3GAN” (2022) e o péssimo “O Exorcista: O Devoto” (2023), a expectativa era boa, ao que havia sido mostrado toda a produção foi bem feita, fidelidade nos animatrônicos, uma boa história já construída dentro do universo para ser aproveitada, havia a receita para o sucesso ali, até a possibilidade de se tornar em uma série de filmes. E de fato, o filme é bem produzido, é inegável a fidelidade com os clássicos personagens Freddy, Chica, Foxy e Bonnie, além do respeito com a história original do jogo.
Five Nights at Freddy’s: O Pesadelo Sem Fim, conta a história de Mike, que não consegue firmar-se em emprego, mas precisa trabalhar pois briga pela guarda de sua irmã, contra sua tia e isso o força a aceitar o cargo de segurança noturno na Freddy Fazbear’s Pizza, uma Pizzaria abandonada, mas que o dono não queria vender o local e precisa que alguém cuide dela durante a noite. Mike lida com a perda do seu irmão Garrett, que foi sequestrado durante um acampamento com seus pais e nunca mais foi encontrado, uma moda um tanto quanto repetitiva nos filmes de terror dos últimos anos, o tema da perda vem ser determinante para a forma como o personagem principal tomará suas atitudes daqui para frente, e aí temos um dos problemas do filme.
O problema do filme está exatamente na sua história, ao procurar olhar demais para a construção do mundo e de seus personagens, o gênero que o filme é proposto parece ser esquecido e é essa essência que fez o jogo tão popular. Sendo bem claro, FNAF é famoso principalmente, pelos seus sustos, jumpscares e ambiente de terror, já no filme, isso é deixado de lado para contar novamente uma história de luto, que por acaso ocorre no universo de Five Nights at Freddy’s. Ao tentar resgatar na memória, não consigo encontrar algum momento que me deu medo de fato assistindo o filme, na realidade em certo ponto eu comecei a pensar que estava assistindo uma paródia dos jogos.
Ao escolher relatar repetidamente o sequestro de Garrett, nos vemos presos a uma história que não nos move adiante na trama, apesar da aparição das crianças, a busca por um culpado nos sonhos e o constante retorno de Mike para o fatídico dia da perda do seu irmão, o primeiro ato e até o segundo, perdem tempo demais nessa história e parecem esquecer de contar o outro filme que existe dentro deste, o de Five Nights at Freddy’s. Sendo assim, se você está esperando sustos pelos menos nos 30 minutos iniciais do filme, temo dizer que se decepcionará bastante e ao longo das 1h49 minutos, serão pouquíssimas cenas em que o sentimento “medo” passará pela sua cabeça. A mecânica point and click do primeiro jogo, trazia um tom de ameaça maior para o jogador, afinal a única forma de você se localizar e saber sobre o local à sua volta era através das câmeras de segurança, que proporcionavam bons jumpscares e isso o filme consegue explorar de uma forma a assustar o espectador.
Antes de assistir, tentava compreender a faixa etária de 14 anos em um filme que se vendeu como terror, sangrento e algo que não era direcionado ao público infantil. Porém assistindo, de fato um adolescente de 14 anos possa se assustar com as pífias tentativas de jumpscare com o Balloon Boy, mas alguém mais velho que isso provavelmente se divertirá muito mais com as cenas em que o advogado da tia do personagem principal está participando.
Um filme de terror, derivado de um jogo de terror, era no mínimo esperado bons sustos, mas o novo filme da Blumhouse passa longe de ser assustador. Porém não diria que é uma decepção, é necessário admitir que é uma boa adaptação da história principal do jogo, não da sua atmosfera, deixando a desejar na adequação do ambiente de horror da franquia. Freddy, que encabeça o título do filme, é só mais um ao lado dos seus companheiros animatrônicos e perde todo o devido peso que deveria ter.
Five Nights at Freddy’s: O Pesadelo Sem Fim, é só mais uma adaptação de jogos para os filmes, em tempos que Sonic, Mario e The Last Of Us expandem seus universos e públicos, com suas essências e ainda sim inovando no que vêm apresentar. FNAF, infelizmente, é só um filme trash de terror, se utilizando de uma grande franquia e uma enorme fanbase que sempre sonhou em ter seu tão amado jogo adaptado para as telonas. Mas no final, não pode contentar com qualquer coisa, e merece ao menos um filme de terror de qualidade.