Por Pedro Belaine

A sinceridade ao iniciar esse texto vai valorizar ainda mais o que escreverei a seguir sobre Mussum, O Filmis. A realidade é que não estava com a menor expectativa para assistir ao filme. O ano de 2023 para o cinema brasileiro está sendo ótimo, seja com o espetacular “Retratos Fantasmas” ou a divertida adaptação da vida da dupla de funk Claudinho e Buchecha. Sem a merecida divulgação, Mussum, O Filmis é uma viagem conduzida pelo samba, na qual acompanhamos a vida de Antônio Carlos Bernardes Gomes, desde a infância até a explosão como um dos Trapalhões. Engraçado e emocionante, o filme é uma homenagem a um dos maiores personagens da história do país.

A intenção do diretor de intercalar as linhas temporais em que a história é narrada funciona e dá dinâmica à experiência de assistir. A primeira versão de Antônio Carlos Bernardes Gomes que conhecemos é a de Carlinhos, interpretada por Thawan Lucas. Como toda criança, ele se vê cheio de sonhos, mas nenhum deles agrada a mãe, vivida lindamente em sua versão jovem por Cacau Protásio, não por falta crença no filho, mas por querer que o mesmo tenha segurança nas suas decisões para o futuro. Essa fase conta com a cena mais linda do filme, conduzida pelo instrumental de “O Mundo é um Moinho” do lendário Cartola. É nessa fase, que conhecemos a frase que guiará a vida de Mussum, dita por sua mãe após a criança querer participar de uma roda de samba, “Burro preto tem um monte, agora, preto burro não dá”.

A música conduz o filme, e este é o maior acerto do diretor Silvio Guindane. Mussum e o samba estão em sintonia, seja em sua história com os Originais do Samba, com a Mangueira ou mesmo com os diversos companheiros da música que conheceu ao longo de sua vida. Uma harmonia que emociona o espectador e te leva a viajar pela história do samba. Além da música, as participações também abrilhantam momentos da obra, como as de Mané Garrincha, Chico Anysio, Elza Soares, Alcione e até Cartola.

Ao optar por narrar a história em três linhas temporais, a unidade na interpretação de Mussum acaba ficando confusa. O Carlinhos jovem adulto, vivido por Yuri Marçal, é uma versão mais expressiva e caricata, algo mais teatral, diferente do que quando passamos a acompanhar o Mussum adulto, vivido por Aílton Graça, que tem o maior tempo de tela. Aqui existe um equilíbrio excelente, com expressões presentes, linguajar caricato, mas sem extrapolar a realidade que a história está pedindo. Essa falta de unidade não me agradou e pareceu que acompanhamos três personagens diferentes ao longo da história.

Mussum, O Filmis é uma cinebiografia e faz questão de expor os problemas enfrentados pelo humorista ao longo da carreira, seja a sua ausência em casa por shows e gravações ou o consumo de bebida, sempre constante em cena, ainda que de forma sutil. O diretor é respeitoso o tempo todo com o legado de Antônio Carlos, mas consegue imprimir todo o amor de alguém que escolheu viver todos os seus sonhos.

Apesar de a história acompanhar a ascensão do homem negro na sociedade, é, antes de tudo, sobre mãe e filho e sua linda relação. Ao abrir portas para o Carlinhos, Mussum deu a si mesmo a escolha de viver uma nova oportunidade. Em sua fase idosa, interpretada por Neusa Borges, as trocas entre Mussum e a mãe tornam-se uma força da natureza, emocionando qualquer um.

Mussum, O Filmis merece mais divulgação, bilheteria, público e reconhecimento. Apesar de ser o grande vencedor do 51° Festival de Cinema de Gramado, ainda não se vê tanto empenho das distribuidoras para fazer essa cômica, linda e importante história atingir mais públicos no país.

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