Live-action de One Piece da Netflix entrega uma excelente adaptação

Julio Costa Neto

Por Pedro Belaine

É, enfim, possível falar a seguinte frase: a Netflix, após tantas tentativas, acertou na adaptação de um anime para o live-action ocidental. E não estamos tratando de um simples feito, que One Piece é um sucesso dentro do meio de animes, não é novidade para ninguém, mas transmitir toda sua teatralidade, as características cartunescas e extremamente marcantes ou até mesmo os debates políticos que sustentam toda a história contada por Eiichiro Oda, era uma missão considerada praticamente impossível para a maioria dos fãs. E ainda sim, volto a afirmar, a Netflix conseguiu nos entregar um excelente live-action e abrindo as portas para o grande público conhecer o bando dos Chapéus de Palha.

Para quem não conhece a obra, One Piece acompanha Luffy (Iñaki Godoy), um jovem pirata que sai aos mares em busca do tesouro deixado pelo último rei dos piratas, Gol D. Roger (Michael Dorman). Que no momento de sua execução pública, anunciou que o seu tesouro seria de quem o encontrasse. Dando assim início a era de ouro da pirataria, em que milhares de pessoas se lançaram aos mares em busca de riquezas e aventuras na perigosa Grand Line, uma faixa de mar que fica localizada na linha equatorial do planeta.

O anime sendo do gênero shounen, trabalha conceitos já conhecidos, como amizade, companheirismo, jamais desistir de seus sonhos e é isso que une One Piece a obras como Naruto, Dragon Ball e os demais animes e mangás que têm como público jovens. Mas o que difere One Piece é a constante presença de debates políticos, o principal deles sendo a luta pela liberdade em meio a um mundo autoritário. E a tentativa de trazer isso para o live action, ainda sim, mantendo toda a essência da obra, era um desafio extremamente complicado e que foi executado de maneira cuidadosa e respeitosa com todo o universo de Eiichiro Oda.

Divulgação / Reprodução Netflix

Outro ponto, além de manter a essência de One Piece e toda teatralidade de seus personagens, era trazer um universo tão rico para a realidade. E nessa questão a série não deixa a desejar em nada o anime, os milhões gastos pela Netflix podem ser vistos nos enormes cenários, barcos e figurinos utilizados ao longo dos oito episódios. Ainda que exista a mescla com CGI, é louvável e eu diria dificilmente perceptível os momentos em que você fala “Nossa, mas é só CGI”.

Mas existem defeitos, esperados devido ao enorme número de episódios e capítulos que a animação conta, são mais de 1071 no anime e 1091 capítulos publicados no mangá. A primeira temporada adapta toda a saga introdutória de Luffy e seu bando, na tentativa de chegar a Grand Line, o arco de East Blue. No anime esse arco tem cerca de 50 episódios, já na série, são 8 episódios de uma hora cada, e condensar tanta coisa, acaba sendo uma tarefa difícil e muitos cortes e até concessões são necessárias. Casos como todo o trabalho em desenvolver sempre a população do local em que os Chapéus de Palha estão visitando, acabam sendo acelerados e isso prejudica o brilho dos próprios personagens.

O único que não sente isso em momento algum, é Iñaki Godoy com sua interpretação magistral de Monkey D. Luffy. O ator compreende e executa toda a carisma, inocência e alegria que o personagem principal possui no anime para as telas do live-action, sendo assim o coração, como no anime, de toda a obra. Zoro (Mackenyu), também tem ótimos momentos, principalmente nas cenas de ação com belas coreografias e a Nami (Emily Rudd) em todo tom dramático de seu arco, entrega tudo que precisávamos para compreender seus dramas e dores. Sanji (Taz Skylar) e Usopp (Jacob Gibson) brilham em seus respectivos arcos e flashbacks, mas ficam apagados após isso, ainda sim sem tornar a série em algo ruim.

Longe de ser uma perfeição, mas após anos de tentativas, a Netflix conseguiu acertar na sua adaptação. O acerto deve ser comemorado, tanto por fãs quanto pelo streaming, principalmente pela dificuldade de trazer às telas uma obra tão conhecida e rica. A torcida é que seja a porta de entrada, para a compreensão do formato e cuidado para a produção de animes para o live-action.

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