Divertidamente 2 deixa a ansiedade tomar conta e acerta na aventura

Julio Costa Neto

Por Pedro Belaine

Toda a ansiedade que podia existir em um estúdio está representada em Divertida Mente 2. Desde 2017, a Pixar não se encontrava em seus longas. Para diversos fãs, Viva – A Vida é Uma Festa foi o último clássico que o estúdio conseguiu emplacar, e desde então, apesar de alguns bons filmes, não trazia mais a inventividade, aventura e maturidade tão características do estúdio em suas obras.

Com o anúncio da continuação de Divertida Mente, retomamos a pauta de que estavam presos a esses clássicos filmes, sem a criatividade de se arriscar em novas franquias, atingir novos públicos e realmente dar um descanso para esse constante “apelo emocional”. Mas, quem diria que na continuação de um dos melhores filmes da sua história, a Pixar conseguiria trazer algo no mesmo nível ou, como eu saí do cinema dizendo: melhor do que o original.

Divertida Mente 2 segue a estrutura do primeiro filme, não tem medo de se repetir na busca por algo que foi perdido nas profundezas do subconsciente da Riley e, de fato, nisso é apenas uma repetição do seu antecessor. Porém, o brilho do filme está na forma com a qual a ansiedade (um dos novos sentimentos da agora adolescente) vai tomando o controle e ditando todo o seu ritmo. Soa até curioso, mas a realidade é que, nos tempos com os quais estamos lidando, nada melhor do que ver de fato o que acontece quando deixamos essa emoção tomar posse.

O desenvolvimento é um show à parte; cada detalhe da obra é importante e vai somando o furacão de emoções que são os minutos finais. Enquanto a Alegria e os outros já conhecidos sentimentos pelo público optam por fazer a Riley esquecer as lembranças ruins e moldar sua personalidade apenas com memórias boas, os novos sentimentos, Ansiedade, Vergonha, Deprê e Inveja, acreditam que, na realidade, o melhor para a garota seria começar tudo do zero baseado no que ela um dia gostaria de ser, deixando de lado tudo aquilo que foi vivido. E é com base nessa premissa que começamos a ver o colapso das próprias emoções, como a da Alegria que, em certo momento, tem um lampejo de Raiva que é ao mesmo tempo extremamente engraçado, mas demonstra que é impossível nos sustentarmos apenas nessa emoção.

A jornada de busca pela personalidade ideal da Riley é um espetáculo. Destaque para a cena do cofre, que trabalha com três tipos de animação diferentes e com um texto e timing cômico maravilhosos, fazendo crianças e adultos gargalharem na sala de cinema. Além disso, a dublagem é sensacional. Tatá Werneck, se não era, agora é com toda certeza a voz da minha ansiedade e estará ecoando em minha mente por um bom tempo. O Raiva tem falas extremamente engraçadas e bem características da nossa dublagem.

Divertida Mente 2 é um acerto, não apenas pela fácil conexão emocional com o espectador, mas por não se prender a isso e emplacar uma aventura Pixar tal qual Toy Story 2 fez eu me sentir. Ao mesmo tempo que empolga, as vivências da personagem principal vão resgatando nas nossas memórias situações que um dia já passamos, tornando toda aquela experiência cinematográfica ainda mais especial e impossível de não se emocionar. Ao aprofundar o entendimento sobre as emoções, a Disney deixa clara sua intenção de continuar a contar essa história, porém não sendo apenas mais uma para seu quadro de bonecos coloridos, e sim uma obra madura de aprofundamento sobre o próprio ser humano, o que aqui é o fato determinante para a conexão com essa história.

A opção do estúdio de retratar a ansiedade, ainda que inconscientemente, representou muito sobre o momento que estavam passando. Com obras desconcertadas, objetivos equivocados e, principalmente, esquecendo a essência de fato que fez a Pixar ter o renome que hoje tem. Em Divertida Mente 2, os pontos se alinham, olham para o passado e aprendem com cada erro que tiveram a chance de observar e optam por honrar um já clássico que completa nove anos no dia 18 de junho, e ao mesmo tempo, trazer uma continuação tão boa quanto, para contar uma história similar, com uma nova abordagem, mas que compreende que basta colocar suas emoções no lugar.

O filme é uma aventura de tirar o fôlego e atiçar sua ansiedade. Da criança ao adulto (como sempre), é uma pedida certeira para levar toda a família ao cinema e sair da sala talvez compreendendo um pouco mais sobre o que te faz ser essa pessoa de hoje. Que essa seja a volta aos trilhos da Pixar, pois para nós, é nesse caminho que queremos que ela siga.

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